O câncer de mama é o segundo tipo mais comum entre mulheres no Brasil, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Segundo o INCA, a estimativa para 2025 é de 73.610 novos casos, números que reforçam a importância de campanhas como o Outubro Rosa

No mundo dos negócios, onde resultados e metas frequentemente dominam as discussões, temas relacionados à saúde da mulher ganham relevância além da responsabilidade social, assumindo papel com impacto direto na produtividade, bem-estar e retenção de talentos

Cada vez mais empresas estão percebendo que abordar questões de saúde feminina transcende estratégias de marketing superficiais. A verdadeira transformação acontece quando organizações se comprometem com ações efetivas que vão além de campanhas simbólicas, oferecendo recursos concretos e informações relevantes aos seus colaboradores. 

No setor de eventos, essa oportunidade se potencializa. Além de promover produtos e fortalecer marcas, os expositores podem usar esse espaço para dar visibilidade a pautas essenciais, como a saúde da mulher, de forma autêntica e transformadora. 

Uma história de superação e liderança 

Para debater sobre essa realidade, a Redação Conexão B2B conversou com Heloísa Leite, Gerente de Cultura e Engajamento Latam da Informa, que vivenciou uma experiência oncológica aos 34 anos, quando assumia um novo desafio profissional na implementação e coordenação da área de Marketing Institucional. 

Heloísa descobriu um câncer de mama durante as férias de fim de ano – um momento em que estava bem na vida pessoal e profissional e cheia de sonhos. Sem histórico familiar da doença, a descoberta foi um grande susto que transformaria não apenas sua perspectiva pessoal, mas também sua visão sobre liderança e gestão de pessoas. 

“Para mim não há diferença entre vida pessoal e profissional, elas se entrelaçam e se misturam. Seguir em frente, administrando meus papéis, minha rotina e meus sentimentos sobre tudo isso foi muito importante me manter no trabalho”, pontua. 

O apoio que recebeu de sua liderança foi fundamental para manter sua integridade psicológica durante todo o processo de tratamento, que incluiu cirurgia, quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia. 

Transformação na perspectiva de liderança e insights 

Essa experiência proporcionou a Heloísa uma mudança profunda de perspectiva sobre como liderar e interagir com pessoas. Antes focada em resultados e metas, ela passou a entender que a verdadeira liderança está enraizada na empatia, escuta ativa e capacidade de criar um ambiente onde cada indivíduo se sinta valorizado e respeitado

Na entrevista completa, Heloísa compartilha reflexões importantes sobre: 

  • Como transformar campanhas em ações efetivas de cuidado 
  • Estratégias para ambientes corporativos mais empáticos 
  • A importância de abraçar causas além do marketing 
  • Conselhos para mulheres em tratamento 
  • O futuro da saúde da mulher no mundo dos negócios 

Quer conhecer todos os detalhes dessa conversa inspiradora? Leia a seguir a entrevista na íntegra! 

Conexão B2B: Poderia compartilhar sua história e nos contar como foi conciliar o tratamento com o mundo corporativo?

Heloísa: Estava com 34 anos e assumindo um novo desafio na Informa, implementar e coordenar a área de Marketing Institucional. Descobri um câncer de mama durante as férias de fim de ano e foi um grande susto. Era jovem, não tinha histórico familiar de câncer de mama, estava bem na minha vida pessoal e profissional e cheia de sonhos. 

Quando retornei das férias, chamei meu diretor, Mauricio Koyano e a VP de RH, Adriana Ferreira para uma conversa. Contei que havia descoberto um câncer de mama e que ainda não sabia como seria o tratamento e se daria conta do novo desafio. 

Eles me apoiaram e entenderam que era o momento de cuidar da minha saúde e me deixaram a vontade para tomar qualquer decisão para me preservar. 

Passei por uma cirurgia parcial para retirada do câncer, fiquei 15 dias em recuperação e logo após retornei ao trabalho. Foi uma maratona entre exames, cirurgia, pós cirúrgico, quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e por aí vai… 

Para mim não há diferença entre vida pessoal e profissional, elas se entrelaçam e se misturam. Seguir em frente, administrando meus papeis, minha rotina e meus sentimentos sobre tudo isso foi muito importante me manter no trabalho. Lá eu não era paciente. Eu era uma profissional como outra qualquer. Em nenhum momento tive uma tratativa diferente. Tive apoio e acolhimento da minha liderança, do RH, dos meus colegas e isso foi fundamental para manter minha integridade psicológica e me dar forças. 

Nem todo mundo tem a mesma oportunidade que eu tive. Trabalhar em um ambiente onde existe respeito e apoio muda todo o cenário.  

Este processo de tratamento é muito solitário. Só quem passa, sabe. Mas poder contar com as pessoas durante esse processo é imprescindível. 

Conexão B2B: Que mudanças de perspectiva sobre liderança e gestão de pessoas você teve após essa experiência? 

Heloísa: A vivência com o câncer me proporcionou uma mudança profunda de perspectiva sobre como liderar e interagir com as pessoas. Antes, eu via a liderança como algo focado em resultados e metas, mas hoje entendo que a verdadeira liderança está enraizada na empatia, na escuta ativa e na capacidade de criar um ambiente onde cada indivíduo se sinta valorizado e respeitado.  

Agradeço por estar em um ambiente seguro, onde posso ser eu mesma, ser respeitada e ter acolhimento quando necessário. Essa segurança é essencial para que qualquer pessoa, independentemente de sua condição, possa contribuir com seu melhor. 

Humanizar as relações, sem vitimá-las, é uma necessidade urgente e, infelizmente, rara nos dias de hoje. A experiência oncológica me ensinou que cada pessoa carrega suas próprias batalhas, visíveis ou invisíveis, e que o papel de um líder vai além de gerenciar tarefas, é sobre oferecer suporte, reconhecer as necessidades individuais e criar um espaço onde todos possam prosperar. Não apenas para pacientes oncológicos, mas para qualquer pessoa que enfrente desafios pessoais ou profissionais, o acolhimento e o respeito são pilares fundamentais para o bem-estar e a produtividade. 

Essa jornada também me mostrou que a vulnerabilidade não é uma fraqueza, mas uma força. Ao compartilhar minha história e minhas dificuldades, percebo que inspiro outras pessoas a serem mais abertas e a buscarem apoio quando necessário. Isso cria uma cultura de confiança e colaboração, onde as pessoas se sentem encorajadas a serem autênticas e a contribuírem com suas ideias e talentos. 

Conexão B2B: Em sua opinião, qual a importância de as empresas abraçarem causas como o Outubro Rosa além do marketing? 

Heloísa: Embora campanhas visuais ou simbólicas possam chamar atenção, elas não são suficientes para promover mudanças reais na conscientização e no cuidado com a saúde. É fundamental que as empresas assumam um papel ativo e genuíno, oferecendo recursos concretos e informações relevantes aos seus colaboradores. Não será um chocolate com a frase “Campanha Outubro Rosa” que incentivará alguém a cuidar da saúde. O autocuidado deve ser promovido durante todo o ano, e as organizações têm a responsabilidade de criar condições que facilitem esse cuidado. Quando as empresas vão além do marketing e se comprometem com ações efetivas, elas se tornam agentes de transformação, promovendo impacto positivo tanto no ambiente corporativo quanto na sociedade. 

Conexão B2B: Como transformar campanhas de conscientização em ações efetivas de cuidado com os colaboradores e como criar um ambiente corporativo mais empático e acolhedor durante tratamentos de saúde? 

Heloísa: Empresas que realmente desejam fazer a diferença podem investir em iniciativas como palestras de conscientização, trazer profissionais especializados para falar sobre prevenção e diagnóstico precoce, organizar dias de check-up e engajar os colaboradores em ações práticas. Essas medidas não apenas demonstram preocupação com o bem-estar dos funcionários, mas também ajudam a construir uma cultura de saúde e autocuidado dentro da organização.  

Criar um ambiente corporativo empático e acolhedor durante tratamentos de saúde exige respeito, compreensão e políticas de apoio. Flexibilização de horários, trabalho remoto e adaptações no ambiente são fundamentais para atender às necessidades dos colaboradores. Além disso, oferecer suporte emocional, como assistência psicológica e grupos de apoio, e promover ações de conscientização sobre saúde reforçam a empatia e o cuidado. Gestores devem manter uma comunicação aberta, ouvindo e oferecendo soluções personalizadas, enquanto iniciativas como palestras e benefícios voltados à saúde ajudam a integrar o cuidado à cultura organizacional. 

Conexão B2B: Durante eventos, além de mostrar os produtos e fortalecer suas marcas, as empresas têm a chance de desenvolver ações e dar visibilidade para assuntos importantes. Como as empresas que participam de eventos podem incorporar a conscientização sobre saúde da mulher de forma autêntica? 

Heloísa: Empresas podem incorporar a conscientização sobre saúde em eventos de forma autêntica ao promover ações práticas e educativas. Isso inclui oferecer palestras com especialistas, realizar exames preventivos, distribuir materiais informativos e criar espaços interativos para discussões sobre o tema. Parcerias com instituições de saúde ou ONGs também ajudam a fortalecer a credibilidade e o impacto das iniciativas. O foco deve estar em ações genuínas que demonstrem compromisso com o bem-estar, indo além de estratégias comerciais e gerando mudanças positivas na sociedade. 

Conexão B2B: Que conselho você daria para outras mulheres que estão vivenciando a mesma experiência nesse momento e qual sua mensagem para líderes sobre a importância da humanização no ambiente de trabalho? 

Heloísa: Para outras mulheres que estão vivenciando essa experiência, meu conselho é: priorizem sua saúde e bem-estar acima de tudo. Permitam-se pedir ajuda, compartilhar suas necessidades e se apoiar em pessoas de confiança. Lembrem-se de que vocês não estão sozinhas e que buscar apoio emocional e profissional pode fazer toda a diferença nesse momento. Cultivem a paciência consigo mesmas e celebrem cada pequena vitória no processo de recuperação. 

Para os líderes, minha mensagem é clara: a humanização no ambiente de trabalho não é apenas um diferencial, mas uma necessidade. É fundamental criar um espaço onde os colaboradores se sintam acolhidos, respeitados e apoiados, especialmente em momentos de vulnerabilidade. Práticas como escuta ativa, flexibilidade e políticas de suporte à saúde demonstram empatia e fortalecem a relação entre empresa e equipe. Um ambiente humanizado não apenas melhora o bem-estar dos funcionários, mas também promove engajamento, produtividade e lealdade. 

Conexão B2B: Como você enxerga o futuro das discussões sobre saúde da mulher no mundo dos negócios?  

Heloísa: Enxergo o futuro das discussões sobre saúde da mulher no mundo dos negócios como uma oportunidade de transformação profunda. Cada vez mais, empresas estão percebendo que abordar temas relacionados à saúde da mulher não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas também de impacto direto na produtividade, bem-estar e retenção de talentos. Com o avanço das pautas de diversidade e inclusão, acredito que essas discussões ganharão mais espaço, sendo incorporadas de forma estratégica às políticas corporativas. 

No futuro, espero ver empresas investindo em programas contínuos de conscientização, benefícios voltados à saúde feminina, como acesso a exames preventivos e suporte psicológico, além de iniciativas que promovam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. A tecnologia também terá um papel importante, facilitando o acesso a informações e serviços de saúde. Quando as organizações tratam a saúde da mulher como prioridade, elas não apenas fortalecem suas marcas, mas também contribuem para uma sociedade mais saudável e igualitária.